sábado, 26 de maio de 2012

Os Agentes de Satã: a mulher


Palavras chaves :  igreja, mulher, diabo, medo, misoginia.
Objetivos :
1- Compreender as raízes da imagem feminina como perversa e causadora de todos os males no mundo;
2-  Analisar o medo dos homens pelas mulheres no ocidente ;
3- Perceber como o discurso eclesiástico permitiu e estimulou o ódio pelo sexo oposto, promovendo por fim a famosa caçada as bruxas.

Como veremos mais adiante a acusação da mulher como fonte de todo mal é algo de longa data. Na idade moderna ela é vista como um perigoso agente de Satanás, assim como o judeu. Essa percepção era compartilhada tanto por clérigos como por autoridades leigas.
Podemos afirmar que nem sempre a mulher fora vista desse modo, mas na idade da pedra e na época romântica, por exemplo, ela fora exaltada como  deusa da fertilidade, virtuosa, símbolo de sabedoria e fonte de inspiração.
Freud atribuiu o medo da mulher por parte do homem ao fato de acreditar que ela poderia castrá-lo. Karen Horney diz que este medo provém do fato de a mulher ser naturalmente misteriosa. O homem jamais entenderá a maternidade! Por isso mesmo a mulher é vista como uma grande contradição, ou seja, ela é objeto de desejo masculino, porém é também algo que gera repulsa ( a menstruação é algo exclusivo da mulheres). Do mesmo modo a mulher era a geradora da vida e de seu ventre saiam os filhos, e ao mesmo tempo a terra era considerada uma grande mãe que alimentava os homens e por fim os engoliam no ventre terreno após a morte. Não é estranho o fato de a mulher em muitas civilizações antigas ser a responsável pelos ritos de passagem  ou funerários. Pois sua imagem estava relacionada ao ciclo natural e eterno de viver e morrer)
O que reforçava a imagem da mulher como devoradora de homens era a existência de muitas deusas monstro, como Medéia, que alimentava-se de crianças; Kali, deusa hindu, talvez a maior representação da ambigüidade feminina " criadora e destruidora" ao mesmo tempo." Logo o medo da castração dita por Freud faz sentido, e ha muito tempo estava no imaginário popular. Um exemplo disso são as crenças dos nativos norte americanos e indianos.
Como vimos a mulher sempre estivera associada a fertilidade e ao ciclo da vida. Sua imagem remete ao renascimento e a necessidade de se reproduzir. Logo, o sexo ou o desejo insaciável por ele é sua principal característica. É como que se a mulher sempre estivesse faminta por sexo, por isso passou a ser comparada com o louva-a -deus, que decapita seus parceiros após a reprodução. Portanto a mulher cada vez mais se tornou um símbolo de perdição. Acreditou-se que a amizade de um homem com uma mulher era impossível e quando ocorria era uma maneira do homem disfarçar seu medo pelo sexo oposto.
[...] a mulher fora acusada pelo outro sexo de ter introduzido na terra o pecado, a desgraça e a morte. Pandora grega ou Eva judaica, ela cometeu a falta original ao abrir a urna que continha todos os males ou ao comer o fruto proibido. O homem procurou um responsável para o sofrimento, para o malogro, para o desaparecimento do paraíso terrestre, e encontrou a mulher. Como não temer um ser tão perigoso como quando sorri? A caverna sexual tornou-se a fossa viscosa do inferno".(p.468)
Não podemos determinar que este medo do feminino surgiu com os ascetas cristãos e suas pregações, na verdade eles contribuíram para reforçar esta imagem diabólica que a mulher ha muito tempo carrega consigo. O anti-feminismo antecede o discurso teológico. Se os padres e monges católicos tivessem se apegado mais de fato aos evangelhos com certeza teriam mudado essa terrível construção da mulher. Pois o próprio Cristo dá um sopro de caridade e igualdade dos sexos. Dois bons exemplos disso são a mulher samaritana, perdoada por Jesus, como também a pecadora pega em adultério que seria apedrejada em praça pública. Maria Madalena é a primeira testemunha da ressurreição de Cristo e nós sabemos que nos tempos bíblicos o testemunho de uma mulher nada valia. Do mesmo modo foram mulheres que permaneceram fiéis a Jesus, mesmo esse estando crucificado. E foram elas que sustentaram seu ministério em vida com doações e esmolas. A pergunta é : por quê então a mulher não conseguiu uma nova condição perante a sociedade com o advento do cristianismo? A resposta é simples, foi graças ao seu próprio contexto histórico e as influências judaicas, greco-romanas ( Pitagorismo, estoicismo, platonismo)
O apóstolo Paulo também é visto como um grande responsável pelas permanências do machismo e sua imagem é tida como ambígua dentro do cristianismo. Pois ao mesmo tempo que pregava um universalismo , ou seja, não há judeu nem grego, nem macho ou fêmea, Paulo acabou por condicionar a mulher num estado inferior ao homem. Ela estava proibida de ministrar na igreja. Paulo escrevendo aos corintos diz que " a mulher esteja calada".
Obs: Paulo temia que as mulheres cristãs fossem confundidas com as pagãs, que geralmente ministravam nos templos das deusas mães.
A herança da mulher como agente do mal no cristianismo é algo que pode chocar , pois de um modo bem claro e direto a mulher foi demonizada pelos celibatários, que tinham a necessidade de enxergar suas próprias mazelas em outrem, neste caso na mulher. Tertuliano disse: " tu és a porta do diabo". Ambrósio : "deves permanecer virgem". Jerônimo : " o casamento é um dom do pecado". Portanto, a sexualidade é por excelência o grande pecado.
Os discursos eclesiásticos reforçaram essa idéia de malignidade na mulher. Santo Agostinho dizia que o homem era a perfeita imagem de Deus, que  seu corpo era o reflexo perfeito de sua alma. E Tomás de Aquino afirmava que a mulher fora criada mais imperfeita que o homem: " a mulher é um macho deficiente".
Vejamos mais destes discursos na idade média:
Odon, abade de Cluny no séc. x :" a mulher é um saco de excremento"
Roger de Caen no séc. XI : "Todos os maridos são infelizes"
Porém não podemos esquecer que foi também na idade média que a imagem feminina fora exaltada através do ideal feminino em Maria, mãe de Jesus Cristo. O Culto mariano e a literatura travadora promoveram a mulher medieval. Claro que isso deve ser visto a longo prazo e como a desvalorização mor da sexualidade.
"Assim, o sermão, meio eficaz de cristianização a partir do séc.XIII, difundiu sem descanso e tentou fazer penetrar nas mentalidades o medo da mulher. O que na alta idade média era discurso monástico tornou-se em seguida, pela ampliação progressiva das audiências, advertência inquieta para o uso de toda a igreja discente que foi convidada a confundir a vida de clérigos e vida de leigos, sexualidade e pecado, Eva e Satã."(p.480)
Portanto, concluímos que os sermões dos padres ascéticos e a imprensa só contribuíram para aumentar o ódio pelo sexo oposto, assim como pelos judeus e pelo eminente fim do mundo. Toda essa literatura acabou por criar ou associar a imagem da mulher com o diabo, a feitiçaria e mais tarde para a caça às bruxas. A mulher era desse modo a responsável por todo o mal no mundo, símbolo de idolatria e causa maior de apostasia.
Bibliografia:
DELUMEOU. Jean. História do medo no ocidente: 1300-1800- uma cidade sitiada.  Companhia das letras. São Paulo- 2009. p. 462-489.

Um comentário:

  1. não éra só a igreja católica que pregavam a inferioridade da mulher. Juízes, médicos e leigos também contribuíram para a difusão desses preconceitos, vc poderia mi dar o que os médicos da renascença diziam sobre as mulhers ?

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