Palavras chaves: Inquisição, torturas, Igreja, Hereges
Objetivos:
1- Compreender como
surgiu a Inquisição;
2- Entender os interesses
da Igreja nas ações inquisitoriais;
3- Analisar a inquisição
como ressurgimento de antigas práticas "pagãs";
4- Identificar as técnicas
de tortura usadas pelos inquisidores como forma de intimidação social e suas
consequências.
No séc. XIII a Igreja
Católica era detentora de um poder admirável na Europa. Para preservar seu poder teve de tomar
medidas radicais contra supostos "hereges" que ameaçavam seu domínio
quase que absoluto. Estes hereges eram os Cátaros, que viviam de forma simples
e humilde e criticavam o estilo de vida pomposo
dos bispos e do papa, que em nada se assemelhavam a Cristo e suas
mensagens. Os Cátaros tornaram-se tão populares que preocuparam as autoridades
da igreja romana.
É nesse contexto que
surge um homem possuidor de grande retórica e fanatismo : Dominic de Gusmán, um
fervoroso combatente das ideias cátaras. Para combater os Cátaros Dominic
investiu em educação e estudo teológico. Sim, pois os cátaros eram conhecidos
por serem homens piedosos, que dedicavam-se ao estudo e pregação da Bíblia.
Andavam com roupas simples e pobres , diferentemente dos membros do clero. Foi
por isso que Dominic também ensinou a piedade e a pobreza a seus frades.
[...] " Dominic tornou-se o primeiro homem na
igreja a defender a cultura como ajuda e instrumento integrais da
pregação." (p.34)
Devido a sua amizade com
o comandante de Cruzadas, Simon de Montfort, Dominic obtivera prestígio e
muitos recursos financeiros, conseguindo não definitivamente , implantar a
ordem dominicana em
Toulouse. Foi apenas em 1216, após o quarto concílio de
Latrão, que a ordem dos dominicanos se estabeleceu. Ela tornou-se um braço
forte para a igreja e serviu-lhe como informante, caçadora de hereges e confiscava
bens.
Não se pode falar de
inquisição sem mencionarmos a ordem dos frades dominicanos. Em 1234, após a
morte de seu mentor, o Papa Gregório IX, amigo de Dominic, o canonizara e
delegara a esta ordem a missão de erradicar as heresias, concedendo-lhe
autoridade sobre outros frades e estabelecendo um tribunal próprio para
julgamento de denúncias de possíveis práticas heterodoxos ao catolicismo. A
princípio fora feito para punir frades que simpatizavam com as ideias dos
Cátaros.
Toda a autoridade dada a
ordem dominicana acabou por gerar ciúmes entre outros padres e bispos, que
sentiam-se ameaçados pela ascensão dos Frades inquisidores. As ações tomadas
por estes eram tão ferozes que geravam reações hostis no seio da sociedade europeia.
Os cônsules das cidades chegaram a expulsar os inquisidores que rapidamente
obtiveram o direito de voltar para aplicarem suas duras penas aos
"rebeldes". A máxima dos inquisidores era " quem assim se
comporta, assim perece".
Uma forma de impor seu
poder à sociedade medieval foi o terror. Através de ações punitivas e
constrangedoras a igreja conseguiu domar tanto as classes mais altas como as mais baixas do mundo europeu. Uma demonstração
disso é a exumação dos ossos de mortos considerados mau exemplos.
[...]”Quaisquer que tenham sido as outras engenhocas
perversamente concebidas para infligir dor, o instrumento supremo da inquisição
era o fogo.[...]”(p.45)
A inquisição de modo mais
crítico pode e deve ser vista como um mecanismo da igreja católica de controlar
e manipular a sociedade daquela época. Também pode ser vista como o ressurgimento ou resgate de antigas
práticas pagãs mascaradas, disfarçadas com vestiduras cristãs. Frederico II,
Sacro Imperador romano, é a ilustração da hipocrisia e do jogo de interesses
que rodeavam o contexto medieval. Frederico II não se dava tão bem com a igreja
, tanto que fora excomungado duas vezes pela mesma. Ele era adepto de práticas esotéricas
e não era admirador maior dos ensinos de Jesus. Mas quando a questão era
derramar sangue humano, o mesmo rei mostrava-se bastante zeloso pela igreja de
Cristo, mandando matar todos os hereges. Do mesmo modo, a igreja apropriava-se
das normas legais estipuladas pelo rei para punir e intimidar a todos que
ousassem se opor a suas ordens.
“ Sob auspícios de homens como esses, antiga prática
pagã de sacrifício humano ritual foi
ressuscitada ,disfarçada de piedade cristã. A queima de um herege tornou-se
ocasião de comemoração, um acontecimento alegre.”[...](p.47)
A inquisição apropriou-se de mecanismos de
controle e opressão, tão eficientes que serviu como modelo para a polícia
investigativa de dias posteriores, como por exemplo de Stalin. Usava todo um aparato
burocrático e físico, acompanhado de solenes cerimônias que sacralizavam e
legitimavam suas ações. Algumas dessas
técnicas ou “práticas de misericórdias ”ficaram conhecidas como (1) disciplina,
(2) Peregrinações, (3) Cruz açafrão, (4) Multas. Todas elas serviam como forma
de manter a sociedade sob o domínio da igreja.
“Para assegurar o número máximo de
espectadores, as execuções , sempre que possível, realizavam-se em feriados
públicos. O acusado era amarrado a um poste acima de uma pira de lenha seca,
alto o bastante para ser visto por uma multidão reunida.[...]”(p.54)
Os constrangimentos e
humilhações dos atos inquisitoriais poderiam durar toda a existência de um
herege. O terror e o medo estava tão disseminado no seio social que todos eram
“espiões”. Todos denunciavam seus vizinhos ( muitas vezes por simples rixa). A inquisição
também possuía um banco de dados que poderia ser consultado décadas após as
acusações. Nele estava descrito processos, denúncias e o herege jamais deixaria
de ser herege, a menos que o Inquisidor o quisesse. Aliás, este em ato
simbólico lavava suas mãos e isentando-se de toda a responsabilidade da vida dos
confessores, entregavam-nos na mão das autoridades seculares, para que punissem e até mesmo
matassem os mesmos.
Concluímos, portanto, que
a inquisição fora um instrumento utilizado pela igreja católica com o objetivo
maior de preservar sua hegemonia filosófica e política. Utilizara-se de
mecanismos opressores que marcaram todo um período histórico. Serviu como
modelo , no que se refere a seu aparato, para polícias secretas de tempos
posteriores. E por fim deflagra muitas contradições do cristianismo europeu
ocidental.
Bibliografia:
BAIGENT, Michael; LEIGH,
Richard. A inquisição. Tradução :Marcos Santarrita; Rio
de Janeiro. Imago ed 2001. 348 P.
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