terça-feira, 8 de maio de 2012

Origens da Inquisição


Palavras chaves:  Inquisição, torturas, Igreja, Hereges

Objetivos:
1- Compreender como surgiu a Inquisição;
2- Entender os interesses da Igreja nas ações inquisitoriais;
3- Analisar a inquisição como ressurgimento de antigas práticas "pagãs";
4- Identificar as técnicas de tortura usadas pelos inquisidores como forma de intimidação social e suas consequências.

No séc. XIII a Igreja Católica era detentora de um poder admirável na Europa.  Para preservar seu poder teve de tomar medidas radicais contra supostos "hereges" que ameaçavam seu domínio quase que absoluto. Estes hereges eram os Cátaros, que viviam de forma simples e humilde e criticavam o estilo de vida pomposo  dos bispos e do papa, que em nada se assemelhavam a Cristo e suas mensagens. Os Cátaros tornaram-se tão populares que preocuparam as autoridades da igreja romana. 

É nesse contexto que surge um homem possuidor de grande retórica e fanatismo : Dominic de Gusmán, um fervoroso combatente das ideias cátaras. Para combater os Cátaros Dominic investiu em educação e estudo teológico. Sim, pois os cátaros eram conhecidos por serem homens piedosos, que dedicavam-se ao estudo e pregação da Bíblia. Andavam com roupas simples e pobres , diferentemente dos membros do clero. Foi por isso que Dominic também ensinou a piedade e a pobreza  a seus frades.

[...] " Dominic tornou-se o primeiro homem na igreja a defender a cultura como ajuda e instrumento integrais da pregação." (p.34)

Devido a sua amizade com o comandante de Cruzadas, Simon de Montfort, Dominic obtivera prestígio e muitos recursos financeiros, conseguindo não definitivamente , implantar a ordem dominicana em Toulouse. Foi apenas em 1216, após o quarto concílio de Latrão, que a ordem dos dominicanos se estabeleceu. Ela tornou-se um braço forte para a igreja e  serviu-lhe  como informante, caçadora de hereges e confiscava  bens. 

Não se pode falar de inquisição sem mencionarmos a ordem dos frades dominicanos. Em 1234, após a morte de seu mentor, o Papa Gregório IX, amigo de Dominic, o canonizara e delegara a esta ordem a missão de erradicar as heresias, concedendo-lhe autoridade sobre outros frades e estabelecendo um tribunal próprio para julgamento de denúncias de possíveis práticas heterodoxos ao catolicismo. A princípio fora feito para punir frades que simpatizavam com as ideias dos Cátaros.

Toda a autoridade dada a ordem dominicana acabou por gerar ciúmes entre outros padres e bispos, que sentiam-se ameaçados pela ascensão dos Frades inquisidores. As ações tomadas por estes eram tão ferozes que geravam reações hostis no seio da sociedade europeia. Os cônsules das cidades chegaram a expulsar os inquisidores que rapidamente obtiveram o direito de voltar para aplicarem suas duras penas aos "rebeldes". A máxima dos inquisidores era " quem assim se comporta, assim perece".
Uma forma de impor seu poder à sociedade medieval foi o terror. Através de ações punitivas e constrangedoras a igreja conseguiu domar tanto as classes mais altas como as  mais baixas do mundo europeu. Uma demonstração disso é a exumação dos ossos de mortos considerados mau exemplos.

[...]”Quaisquer que tenham sido as outras engenhocas perversamente concebidas para infligir dor, o instrumento supremo da inquisição era o fogo.[...]”(p.45)

A inquisição de modo mais crítico pode e deve ser vista como um mecanismo da igreja católica de controlar e manipular a sociedade daquela época. Também pode ser vista como  o ressurgimento ou resgate de antigas práticas pagãs mascaradas, disfarçadas com vestiduras cristãs. Frederico II, Sacro Imperador romano, é a ilustração da hipocrisia e do jogo de interesses que rodeavam o contexto medieval. Frederico II não se dava tão bem com a igreja , tanto que fora excomungado duas vezes pela mesma. Ele era adepto de práticas esotéricas e não era admirador maior dos ensinos de Jesus. Mas quando a questão era derramar sangue humano, o mesmo rei mostrava-se bastante zeloso pela igreja de Cristo, mandando matar todos os hereges. Do mesmo modo, a igreja apropriava-se das normas legais estipuladas pelo rei para punir e intimidar a todos que ousassem se opor a suas ordens.

“ Sob auspícios de homens como esses, antiga prática pagã  de sacrifício humano ritual foi ressuscitada ,disfarçada de piedade cristã. A queima de um herege tornou-se ocasião de comemoração, um acontecimento alegre.”[...](p.47)

 A inquisição apropriou-se de mecanismos de controle e opressão, tão eficientes que serviu como modelo para a polícia investigativa de dias posteriores, como por  exemplo de Stalin. Usava todo um aparato burocrático e físico, acompanhado de solenes cerimônias que sacralizavam e legitimavam suas  ações. Algumas dessas técnicas ou “práticas de misericórdias ”ficaram conhecidas como (1) disciplina, (2) Peregrinações, (3) Cruz açafrão, (4) Multas. Todas elas serviam como forma de manter a sociedade sob o domínio da igreja. 

“Para assegurar o número máximo de espectadores, as execuções , sempre que possível, realizavam-se em feriados públicos. O acusado era amarrado a um poste acima de uma pira de lenha seca, alto o bastante para ser visto por uma multidão reunida.[...]”(p.54)

Os constrangimentos e humilhações dos atos inquisitoriais poderiam durar toda a existência de um herege. O terror e o medo estava tão disseminado no seio social que todos eram “espiões”. Todos denunciavam seus vizinhos  ( muitas vezes por simples rixa). A inquisição também possuía um banco de dados que poderia ser consultado décadas após as acusações. Nele estava descrito processos, denúncias e o herege jamais deixaria de ser herege, a menos que o Inquisidor o quisesse. Aliás, este em ato simbólico lavava suas mãos e isentando-se de toda a responsabilidade da vida dos confessores, entregavam-nos na mão das autoridades  seculares, para que punissem e até mesmo matassem os mesmos.

Concluímos, portanto, que a inquisição fora um instrumento utilizado pela igreja católica com o objetivo maior de preservar sua hegemonia filosófica e política. Utilizara-se de mecanismos opressores que marcaram todo um período histórico. Serviu como modelo , no que se refere a seu aparato, para polícias secretas de tempos posteriores. E por fim deflagra muitas contradições do cristianismo europeu ocidental.

Bibliografia:

BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard.  A inquisição.    Tradução :Marcos Santarrita; Rio de Janeiro. Imago ed 2001. 348 P.

                                            

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