Neste capítulo
temos o objetivo de mostrar como as transformações econômicas e sociais que
ocorreram na Europa, entre os séculos XIV e XVI, propiciaram ao homem da sua
época uma nova forma de ver o mundo e de conhecer a si próprio como o outro,
pois em meio a toda essa gama de desenvolvimento buscava-se o “homem” perfeito,
o modelo ideal de civilidade, pronto a usufruir de todos os benefícios que esse
desenvolvimento podia lhe ofertar. Também trataremos a respeito das
continuidades que se observaram nesse período, herdadas principalmente do
medievo.
A ideia de
ruptura esta muito atrelada a este período, é corriqueiro vermos na
historiografia a descrição do período hoje denominado “Idade Moderna”, iniciado
a partir do século XIV, como sendo de total ruptura com o período predecessor a
ele, hoje chamado na historiografia de Idade Média, quando na realidade
trata-se de continuidades. Os períodos anteriores foram responsáveis por
preparar o território para que o desenvolvimento econômico e, consequentemente,
científico acontecesse. Porém, o medievo foi rotulado como período trevoso e
supersticioso quando relacionado a conhecimentos, por parte dos homens
‘modernos’.
Podemos perceber,
no entanto, que a Idade Média também teve seus ‘renascimentos’, dando destaque aqui
ao período Carolíngio. O Império de Carlos Magno teve uma evolução nos
conhecimentos, graças a reformas que foram executadas na educação, servindo
posteriormente como modelos para outras escolas, abrindo caminho para outro
episódio, o Renascimento do século XII que segundo Jeffrey Richards (1993, p.
13) “O século XII foi outro desses períodos. Assistiu a uma curva ascendente de
auto-expressão na religião e na sexualidade, com homens e mulheres buscando
explícita ou implicitamente maior acesso a Deus e maior controle de seus corpos”.
Esse período
desfrutou dos resultados obtidos através das cruzadas, as antigas rotas de
comércio foram reabertas, que antes estavam inutilizadas por ocasião da
dominação do islã em seus territórios. Com sua reabertura foi possível resgatar
as rotas de comércio entre a Europa e o Oriente que se faziam através do Mar
Mediterrâneo, reativando a economia europeia a partir dos séculos VIII e IX.
Nos séculos XI e
XII, começaram a ocorrer várias mudanças sociais, políticas e econômicas. Evoluções
técnicas possibilitaram o cultivo de novas terras e aumentaram a diversidade
dos produtos agrícolas, sustentando uma população que crescia rapidamente. O
crescimento populacional e consequentemente o aumento da produtividade agrícola
permitiram um fortalecimento da vida urbana. As cidades cresceram e tornaram-se
centros de comércio e artesanato, abandonando a sua dependência agrária, em
torno dos castelos e dos mosteiros. Muitas cidades europeias, chamadas de
burgos, acabaram por tornarem-se livres das relações servis e do domínio dos
nobres (senhores feudais) se transformando em ilhas de capitalismo em um
continente feudal. Devido a grande produção agrícola, estavam surgindo estoques
de muitos produtos, onde eram mais que suficientes para a população, gerando um
grande excesso, favorecendo para que esse excesso fosse comercializado. O
comércio estava em franca expansão e se impôs como uma das atividades
econômicas mais determinantes da sociedade. Segundo José Américo Motta Pessanha
(1985, p. 19):
Surge
então uma nova fase dentro da Idade Média, dotada de dinâmica social mais
intensa e cada vez mais distanciada dos padrões da Idade Média primitiva de
base fundamentalmente agrária, fechada numa economia dominial imposta pelo
cerco estabelecido pela expansão do Islã.
Nessa Idade
Média considerada “primitiva” todas as atividades comerciais de cunho urbano
foram drasticamente reduzidas, o artesanato e o comércio haviam decaído e se
reduzido enormemente, ao mesmo tempo em que o vínculo à posse de terras
aumentava, a economia havia se tornado de base agrária e nessas condições o
poder político ficara estreitamente ligado à posse de terras. A estrutura
social tinha se constituído hierarquicamente com pouquíssima possibilidade de
mudanças de níveis sociais, o topo da pirâmide era ocupado pelos grandes donos
de terras, os senhores feudais, e pela Igreja Católica, que era a maior
detentora de terras. Ao levarmos em conta uma Europa que havia sido
completamente ‘barbarizada’, percebemos que todo o conhecimento foi resguardado
pela Igreja Católica, que passou a deter quase que exclusivamente de todos os instrumentos
culturais da época.
Vale ressaltar
que na época esse contexto não se generalizou por todo o continente europeu,
notamos áreas em que o comércio se realizava de forma intensa, como é o caso
dos países próximos ao Mar do Norte, como também em Veneza, que continuou com
seus contatos comerciais com o Oriente. José Américo Motta Pessanha (1985, p.
22) afirma que:
Isso
porque o cerco imposto pelo Islã e o bloqueio das rotas comerciais através do
Mediterrâneo não impediram que intenso comércio permanecesse ocorrendo no mar
do Norte, nem que Veneza mantivesse contatos comerciais com o Oriente. Assim,
não é de admirar que, após a reabertura das velhas rotas comerciais devido às
cruzadas, a dinâmica social dessas regiões, já economicamente diferenciadas
dentro do panorama da primitiva Idade Média, se intensificasse ainda mais,
ensejando a germinação de novos valores sociais e a elaboração de ideias
inovadoras e novos cânones para nortear e valorar as diversas atividades
humanas.
Por causa desse
contraste é que percebemos porque as ideias renascentistas surgiram com mais
força nessas áreas, se destacando os ingleses e os italianos. Voltando ao
renascimento do Século XII, percebemos que com o restabelecimento do comércio
com o Oriente e o desenvolvimento das cidades, começaram a ser derrubadas as
bases da organização feudal. Na medida em que aumentava a demanda de produtos
agrícolas para a alimentação da população urbana, elevou-se o preço dessas
mercadorias, permitindo aos camponeses maiores fundos para a compra de sua
liberdade. Ao mesmo tempo, a expansão do comércio e da indústria criou novas
oportunidades de trabalho, atraindo os servos para as cidades. Esses
acontecimentos, aliados à formação dos exércitos profissionais e à insurreição
camponesa, contribuíram depois para o declínio do feudalismo europeu, que viveu
seu auge nesse período prévio ao renascimento.
Podemos perceber
que a Idade Média vai além dos estereótipos criados para designá-la, notamos
que ela foi dinâmica, fortemente criadora, mas por uma série de fatores isso
foi sufocado, fazendo cair sobre ela o título de ‘Período das Trevas’. Para
entendermos melhor, vamos ao século XIV.
A população europeia teria atingido números altíssimos para a época,
cerca de 80 milhões de habitantes, segundo alguns, o continente estava
superpovoado. Ocorre, então, uma sensível piora climática, que dificultou a
agricultura e a produção de alimentos. Períodos de fome como o de 1315-1317,
eventos catastróficos como a Peste Negra, além de conflitos como a Guerra dos
cem anos, causam abalos nas estruturas da sociedade e trazem um forte baque no
ciclo de prosperidade que havia se instalado. Algum tempo depois esse baque seria
superado, mas então já estaremos na transição da Idade Média para a Idade Moderna,
com o conhecido ‘Renascimento Italiano’, segundo Hilário Franco Júnior (2004,
p. 16):
A baixa
Idade Média (século XIV-meados do século XVI) com suas crises e seus rearranjos
representou exatamente o parto daqueles novos tempos, a Modernidade. A crise do
século XIV, orgânica, global, foi uma decorrência da vitalidade e da contínua
expansão (demográfica, econômica, territorial) dos séculos XI – XIII o que
levara o sistema aos limites possíveis de seu funcionamento. Logo, a
recuperação a partir de meados do século XV deu-se em novos moldes, estabeleceu
novas estruturas, porém assentadas sobre elementos medievais: o Renascimento
(baseado no Renascimento do século XII), os Descobrimentos (continuadores das
viagens dos normandos e dos italianos), o Protestantismo (sucessor vitorioso
das heresias), o absolutismo (consumação da centralização monárquica).
Percebemos ao
longo da discursão que o alvorecer dos ‘novos tempos’ traz suas continuidades e
suas ‘descontinuidades’, vemos que todas as instituições que fizeram parte do
período renascentista já estavam presentes no medievo, se há ruptura e
oposição, existe também, em muitos casos duplo compromisso e continuidades. As
Cruzadas, que ocorreram principalmente no século XII, trouxe a falência da
estrutura de riqueza medieval, a terra. Com o surgimento do comércio, surgiu a
classe burguesa. Essa classe era independente da Igreja e da nobreza. Com o
capital que acumularam, estimularam uma estética que confrontava a estética
católica, promotora da Inquisição, valor contrário a liberdade que essa classe tanto almejava. Era
uma forma de ganhar uma distinção social legitima e que seus descendentes
pudessem desfrutar.
Anteriormente
citamos o fato de que quando o feudalismo imperava na Europa, algumas áreas
continuaram a exercer um movimentado comércio, no caso da Itália, a cidade de
Veneza era destaque pelo comércio que se exercia junto ao Oriente, esses
fatores explicam ter sido a Itália o berço do Renascimento. Em primeiro lugar,
as cidades italianas conheceram esse extraordinário desenvolvimento comercial a
partir do século XII, transformando-se nos principais centros da economia
europeia. Foi justamente ali que se iniciou o pré-capitalismo e, com ele, a
intensificação da vida urbana, que modificaria as bases da sociedade. A vida
nas cidades estreitou os contatos entre as pessoas, favorecendo o intercâmbio
de ideias, a difusão de conhecimentos e uma nova maneira de ver o mundo.
O Renascimento
do Século XV pode ser considerado como a manifestação cultural dessa nova
composição social, na qual o enriquecimento tanto de governantes como de
particulares possibilitou a prática do mecenato. Sob a proteção direta de ricos
patrocinadores (os mecenas), a vida cultural tendeu a expressar os valores
correspondentes aos interesses da classe que emergira com o novo sistema, ou
seja, a burguesia. Em suma, o Renascimento do século XV é a expressão de uma
nova mentalidade, gerada pelo pré-capitalismo. Como todo discurso formado tem
uma ideologia por traz dos sujeitos dominantes, um jogo de interesses
relacionados, o medievo sofreu esse preconceito, quando visto a luz dos ideais
do homem renascentista, segundo Hilário Franco Júnior (2004, p. 11):
No caso
do que chamamos de Idade Média, foi o século XVI que elaborou tal conceito. Ou
melhor, tal preconceito, pois o termo expressava um desprezo indisfarçado em
relação aos séculos localizados entre a Antiguidade Clássica e o próprio século
XVI. Este se via como o renascimento da civilização greco-latina, e portanto
tudo que estivera entre aqueles picos de criatividade artístico-literária (de
seu próprio ponto de vista, é claro) não passara de um hiato, de um intervalo.
Fica claro que o
discurso adotado pelo homem renascentista era o de repúdio a qualquer prática
que retardasse o avanço do conhecimento, foi justamente esse discurso que a
burguesia procurou legitimar, frente a uma sociedade em que as mudanças eram
evitadas a todo custo, em que a hierarquia ainda
obedecia ao critério do nascimento, a burguesia precisava encontrar outra
maneira de alcançar o prestígio que o sangue plebeu lhe negava. Assim, o
patrocínio de atividades culturais significaria uma elevação do status social.
Segundo José Américo Motta Pessanha (1985, p.22):
O homem
que ascende social e economicamente não pode mais aceitar como naturais – e,
portanto, definitivos – os “lugares” das coisas e sobretudo das pessoas. Não
pode admitir que os lugares estejam desde sempre – e, portanto, para sempre –
definidos; nem que as hierarquias sejam rígidas e perenes; nem que tudo esteja
previamente – porque essencialmente – para sempre estabelecido.
Nesse contexto, o
ideal seria que a mentalidade aos poucos voltasse a ser antropocêntrica, tendo
como exemplo principal os gregos, para que os valores medievais fossem, pouco a
pouco, sufocados. Para isso a burguesia, inicialmente italiana, passa a
financiar os artistas renascentistas, como Michelângelo, Leonardo Da Vinci,
Rafael Sanzio, dentre outros. O interesse da burguesia era derrubar antigos
valores típicos da nobreza da Idade Média e instaurar a nova mentalidade que
valorizava a razão em detrimento à fé, valores esses que eram favoráveis à
burguesia. Nesse contexto, de desenvolvimento econômico, as concepções acerca
de como o indivíduo deveria agir em sociedade também se transformava, o acúmulo
de capital financeiro fizeram com que a sua concepção acerca dele, e dos que os
rodeavam mudassem. Uma nova forma de viver em sociedade estava surgindo e o corpo
passa a ser elemento dessa ideologia, e as maneiras de o indivíduo se comportar
em público ganharam destaque e uma sequência de regras iam surgindo, o
indivíduo agora não era como era, e sim como parecia, ou melhor, como conseguia
aparecer, segundo Philippe Arìes (2009, p. 11):
Pois,
sobretudo a partir dos séculos XV e XVI, havia mais espaço de manobra numa
comunidade que o enriquecimento e a diversidade das ocupações tornavam cada vez
mais desigual. Os meios de agir consistiam em ganhar a aprovação ou a inveja ou
pelo menos a tolerância da opinião graças ao parecer, quer dizer, à honra.
Na Europa,
devido às transformações econômicas e sociais, o comportamento passou nesse
momento, portanto, a ser regulado a partir do grupo social em que o indivíduo
estava inserido, sendo codificados todos os movimentos corporais do mesmo,
desde sua postura até seu modo de falar. As regras começaram a ser divulgadas,
e o comportamento passou a ser definido como regra geral para identificar o
grupo social ao qual o indivíduo pertencia, regras que iam desde o modo de se
comportar das crianças, até os mais velhos. O corpo passa a ser visto como
principal meio civilizador e tinha que ser domesticado e moldado, é nele que
essa ideologia ia ser aplicada, segundo Jacques Revel (1991, p.169):
Com
efeito, o século XVI é o de um intenso esforço de codificação e controle dos
comportamentos. Submete-os às normas da civilidade, isto é, às exigências do
comércio social. Existe uma linguagem dos corpos, sim, porém destina-se aos outros,
que devem poder captá-la.
Dessa forma,
todo e qualquer comportamento que estivesse fora dos padrões estabelecidos eram
considerados anormais e, portanto revisto e corrigidos, a naturalidade corporal
era cada vez mais reprimida, e quanto mais ele se afastasse de sua
naturalidade, mais civilizado ele seria. Nesse momento, porém questiona-se até
que ponto essa nova forma de pensar romperia as fronteiras da “elite pensante”
e se estenderia ao resto da população. A mentalidade renascentista ainda era muito
limitada à classe dominante, letrada, o resto da população continuava ignorante
e consequentemente alheia a todo esse processo, segundo Philippe Ariès (2009,
p. 11) “[...] estabelecer como princípio que, de meados da Idade Média ao final
do século XVII, não houve mudança real das mentalidades profundas [...]”.
No florescer da
modernidade o homem estava muito mais ligado à religiosidade do que qualquer
outro momento, ela estava impregnada no seu dia a dia, os embates religiosos
dilaceravam a Europa, as mudanças na mentalidade das sociedades europeias
repercutiram também no campo religioso. A Igreja, tão onipotente na Europa medieval,
foi duramente criticada, criticas essas que eram apoiadas principalmente pela
burguesia, como citado anteriormente. As graves críticas a Igreja e as
transformações econômicas e sociais, já não permitiam apenas consertar
internamente a casa. As insatisfações acumularam-se de tal maneira que
desencadearam um movimento de ruptura na unidade cristã: a Reforma Protestante.
Assim, a Reforma
foi motivada por um complexo de causas que ultrapassaram os limites da mera
contestação religiosa, outros fatores estavam relacionados. Diante dos
movimentos protestantes, a reação inicial e imediata da Igreja católica foi
punir os rebeldes, na esperança de que as ideias reformistas não se propagassem
e o mundo cristão recuperasse a unidade perdida. Essa tática, entretanto, não
obteve bons resultados. O movimento protestante avançou pela Europa,
conquistando crescente número de seguidores.
Diante disso,
ganhou força um amplo movimento de moralização do clero e de reorganização das
estruturas administrativas da Igreja Católica, que ficou conhecido como Reforma
Católica ou Contrarreforma. Todas as táticas desse movimento foram decididas no
Concilio de Trento, que discorreu sobre os dogmas, a preparação intelectual do
clero, a criação da Ordem dos Jesuítas, mostrando assim a preocupação da Igreja
em expandir seu domínio através do Novo Mundo, tema que abordaremos mais afundo
nos próximos capítulos.
Dessa maneira,
Portugal se mostrava como país fortemente católico, e o mesmo funcionava em
conjunto com a Igreja Católica, eram muito ligados, fato que nos explica a
proporção da colonização das terras brasílicas e de como essa dualidade estava
inserida no cotidiano das pessoas, sendo manifesta também no Novo Mundo,
segundo Ronaldo Vainfas (2001, p. 293):
Em
Portugal, as decisões de Trento foram acolhidas quase imediatamente ao final do
concílio, mas a aplicação delas conheceu nuances que se explicam pelas peculiares
relações entre a Igreja e a Coroa estabelecidas desde o inicio do século XVI.
Diante da expansão marítima e seu consequente afluxo de riquezas, somados ao
abalo provocado pelas reformas protestantes, a Coroa lusa recorreu à Igreja
como instrumento por excelência de conservação dos poderes e costumes
estabelecidos.
O mundo do
europeu, mais precisamente do português, no século XVI, era dominado por uma
dualidade definidora e decisiva para todo o cotidiano e contexto em que a
Europa estava inserida no momento. E era dessa Europa que se colocava como
centro de tudo, onde todas as regras e moldes civilizatórios se difundiam, ela
que se colocava como centro da humanidade, vivendo na dinâmica nesse momento de
fortes mudanças para os que estavam sobe esse contexto de colonização da
América. Foi nessa dualidade, e porque não dizer ambiguidade, que falamos a
pouco está inserida a Europa que chega a América. Esse período é caracterizado
por um embate das Luzes e das Trevas, com as marcas do Renascimento que evocava
um desenvolvimento econômico, do lucrativo comércio por meio do oceano. Em
outra frente às consequências da Inquisição presentes no mundo do colonizador,
segundo Wehling e Wehling (1999, p.20):
Forjou-se
nos últimos anos da Idade Média, um mundo novo, ao qual o território que viria
a ser o Brasil foi gradativamente incorporado a partir de 1500. Este mundo
novo, do qual o “Novo Mundo” era apenas uma das expressões, resultou de uma
gestação multissecular, na qual tem inicio a história do Brasil.
Consequentemente
entender esse longo processo vivido pela sociedade europeia significa aqui não
nos remetermos a essas mudanças como sendo embasadas apenas em resultado de
situações políticas, econômicas e comerciais, mas, sobretudo estender todas
essas rupturas e transformações na sociedade como um todo. Faz-se necessário
entendermos todos esses contatos que estabelecidos, considerando sempre as
contribuições, positivas ou negativas, que a Europa vem dar ao povo que
encontraram nas terras brasílicas, até então desconhecidos para tais.
Os ares de toda
essa dinâmica social que a população da Europa respirava, dava vida a corpos
sociais desejosos de mudança. O Novo Mundo se mostrou como fruto desse desejo,
uma novidade esboçada pelas ideias de transição para uma futura modernidade.
São as novas terras uma verdadeira amostra da realidade que o europeu estava
inserido naquele momento. Para Wehling e Wehling (1999, p. 51):
Montou-se,
sob condição colonial, uma réplica da administração portuguesa. Travaram-se
lutas de fundo religioso e politico com vistas á dominação territorial.
Surgiram problemas culturais que desafiaram os padrões de compreensão da época.
Diante desse
contexto, Portugal se encontrava com uma monarquia centralizadora, que vivia a
concretização e o ponto mais alto do poder real. A nação portuguesa, do agitado
século XVI como qualquer outra, tinha suas particularidades e estava por seus
próprios meios se adequando a esses fatores sociais que vivia a Europa, fatores
esses que já foram citados anteriormente. A historiografia foi sempre muito
clara quando nos mostra a predisposição do homem português no conhecimento do
mar. Já tendo obtido contato com outras sociedades, culturas e povos, o
português era impulsionado a cada vez mais aperfeiçoar e não perder de vista a
garantia de vida de sua nação, toda essa tradição nos explica os aspectos
adquiridos e desenvolvidos pelos nossos colonizadores portugueses, tema que
aprofundaremos no próximo capítulo.
Autor : Walmar Machado, Licenciado pelas FIP.
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