quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A RELAÇÃO ENTRE SAGRADO E PROFANO NA FESTA DA PADROEIRA DE MALTA/PB





     O trabalho tem como tema a relação entre o Sagrado e Profano na Festa da Padroeira de Nossa Senhora da Conceição no município de Malta/Pb.
          O assunto proposto resulta de certa identificação no âmbito religioso e também uma aspiração em aprofundar meu conhecimento e resgatar a história da origem da religiosidade local.
          Sabe-se que os elementos religiosos influenciam de forma significativa o cotidiano da sociedade. Portanto, percebe-se também o entendimento acerca da formação do sentimento de pertencimento, pois uma festa de padroeira apresenta a manifestação cultural e religiosa de uma dada localidade.

O Sagrado é entendido como algo transcendental, espiritual, divino. O Profano seria tudo aquilo que atribuímos como sinônimo de mundano, pecaminoso, isto é, aquilo que está fora do contexto de religião.No entanto, torna-se bastante difícil tentar apresentar uma definição em separado acerca de Sagrado e Profano, pois eles dialogam cotidianamente.São experiências que compartilhamos ao longo da vida religiosa, através de práticas pessoais, solitárias e em sociedade de forma coletiva.

A própria Festa da Padroeira da cidade, na qual analisaremos,é vista como um espaço diverso porque é ao mesmo tempo lugar de devoção, de grande manifestação de fé e também a expressão viva da cultura do povo. Ou seja, enquanto que para algumas pessoas a festa da padroeira é um momento de demonstração de exaltação à Maria, mãe de Jesus, para outras esse momento não vai além de encontros para diversão, entretenimento. Portanto, a Festa da Padroeira é formada por circunstâncias sagradas e profanas.

         O objetivo do referido trabalho é justamente analisar as práticas culturais e sociais da festa de padroeira de Malta, mostrando o possível entrelaçamento entre sagrado e profano, apresentando de que maneira se dá essa relação.


 O presente trabalho é de grande relevância para a sociedade de Malta, pois não há conhecimento de uma análise de cunho científico em torno da religiosidade local, principalmente em relação a sua Festa da Padroeira. Sobretudo,existe uma imensa escassez quanto às bibliografias da história de Malta, as pouquíssimas referências existentes são as revistas comemorativas da cidade, relatos de pessoas mais idosas e alguns acontecimentos registrados nos livros da paróquia da mesma.

Assim, esta pesquisa poderá proporcionar aos cidadãos maltenses a ter uma compreensão da Festa da Padroeira atrelada ao ambiente Sagrado, porém composta de práticas Profanas presentes o tempo todo através da experimentação do social e cultural contida neste espaço.
Portanto, como residente desta cidade me sinto bastante contente em poder contribuir de alguma forma para os próximos trabalhos que poderão surgir em torno deste assunto, tendo em vista que a história de malta ainda está em construção. Portanto, este trabalho engloba história local e história das religiões.
 

Qual é a relação entre Sagrado e Profano na Festa da Padroeira de Nossa Senhora da Conceição em Malta/PB?


  De um lado, a permanência de rezar, celebrar, de se alegrar.  A importância de saber que por traz de toda essa felicidade, existe um motivo religioso muito forte, que é a Festa da Padroeira. Em contrapartida, as algumas pessoas festejam sem ao menos intencionar que a Festa da Padroeira é de motivo religioso.

Neste sentido, a festa da padroeira entendida como sagrada, porém, ocorre que juntamente com o que é sagrado, aparece o profano, e essa constatação é evidenciada após as procissões e celebrações que são momentos onde os fiéis rezam, cantam, pagam promessas, se emocionam com o tempo sagrado, no entanto, vive-se o lado profano da festa, onde acontecem os tradicionais leilões, com bebida, comida e dança. 


 OBJETIVO GERAL

Analisar a relação entre Sagrado e profano na Festa da Padroeira de Nossa Senhora da Conceição no município de Malta/Pb


 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Discutir a religiosidade no Brasil Colônia, bem como suas ordens e festas.

Fazer um resgate da história da origem da religiosidade do povo maltense.

Compreender de que forma está presente o Sagrado e Profano na Festa da Padroeira e de que maneira se dá essa relação.
 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


  RELIGIOSIDADE NO BRASIL COLONIAL

           Juntamente com a Colonização do Brasil, que aconteceu no século XV por volta de 1500, o Catolicismo foi introduzido no Brasil por missionários que acompanhavam os exploradores e colonizadores portugueses, pois sendo de forte caráter religioso católico, Portugal trouxe alguns membros católicos que teriam a incumbência de ampliar o número de fiéis no Novo Mundo, com principal objetivo de pregar o Cristianismo nas Américas.

            Chega ao Brasil em 1549 o primeiro governador geral, Tomé de Sousa, trazendo consigo vários padres jesuítas, que faziam parte de uma Ordem Católica chamada Companhia de Jesus e que deveriam difundir a fé católica, tendo como alvo primordial cristianizar as populações indígenas do território colonial.

  Voltados para a educação e catequese, os jesuítas foram responsáveis pela fundação das primeiras instituições de ensino no Brasil. Tiveram absoluta liderança nesse setor, passaram a administrar as principais instituições de ensino da época e auxiliar os mais importantes órgãos de administração da metrópole, sendo que a relação entre Estado e Igreja nesse período era próxima. Portanto, na medida em que ambas empreendiam medidas que colaboravam com seus interesses mútuos, ou seja, enquanto os jesuítas tinham apoio na catequização dos nativos, o Estado contava com o auxílio clerical na exploração do território e na administração. Quanto aos colégios jesuítas, eles eram os únicos estabelecimentos de ensino disponíveis na colônia, ao mesmo tempo em que preparavam os futuros padres para a sua missão.

            No entanto, houve diversos conflitos que envolveram os jesuítas e os colonizadores. A enorme dificuldade para se obter mão-de-obra escrava africana motivou vários colonos a buscarem a força de trabalho nos índios. Assim, os jesuítas se opuseram a tal prática, já que a transformação dos índios em escravos dificultava imensamente o trabalho de evangelização. Em outras palavras, desde sua chegada, os jesuítas estiveram envolvidos na conversão dos índios, o que colocou, muitas vezes, em confronto direto com os colonos, que viam o índio como mão-de-obra abundante. Com isso, em 1759 o influente ministro chamado Marquês de Pombal decidiu expulsá-los do Brasil por conta da grande autonomia política e econômica que eles conseguiam com a catequese.

              Apesar disso, a herança religiosa dos jesuítas ainda se encontra em vários setores da nossa comunidade. Muitas escolas tradicionais do país, bem como instituições de ensino superior espalhadas nos mais diversos pontos do território brasileiro, ainda são administradas por setores dirigentes da Igreja Católica

A religiosidade no Brasil Colonial foi marcada pela forte influência do cristianismo entre as populações. A Igreja era o centro da vida social em que a religiosidade se encontrava indissociável da vida cotidiana. Na Igreja, a que se ia mais de uma vez ao dia, possibilitavam-se os encontros, as trocas de novidades, os arranjos matrimoniais, até brotavam romances e nelas, muitas vezes, se abrigavam os amantes. As festas do calendário litúrgico, às procissões, as cerimônias religiosas que marcavam a vida do cristão, as missas, como também as confissões pautavam a vida dos colonos.
            Diante disso, Mott (1997, p.168) nos mostra que:

A capela além das funções religiosas era ponto de reunião social. Ali se celebravam casamentos, batizados, primeiras comunhões. Com freqüência serviam de cemitério aos membros da família. Na maioria dos casos ficavam separadas das residências[...]. A sala lateral à capela-mor, ligada à mesma por janelão. Deste camarim, geralmente simétrico à sacristia, assistiam à missa, sem serem vistos, alguns membros da família grande, especialmente mulheres.


As celebrações religiosas cumpriam objetivos próprios da Igreja, mas também eram parte obrigatória na comemoração das datas referentes à Coroa, servindo para reforçar a presença do poder temporal na Colônia, pela influência e força que a Igreja tinha perante a população. Sendo assim, as procissões realizavam-se tanto para santificar os fatos ligados a vida da família, como, nascimento, aniversário, e principalmente as datas associadas ao calendário litúrgico.

As festas representavam para a Igreja Católica e para o Estado português meios de manipulação e controle de poder, sendo as atividades direcionadas pelo calendário real ou litúrgico. Desta forma, apesar das festas religiosas coloniais se constituírem como ambientes de trocas culturais, as procissões, novenas, adorações e superstições marcavam também a crença e religiosidade colonial como elementos doutrinários, que eram utilizados como instrumento de propagação dos interesses dos colonizadores.

A colônia apresentava características diversas, devido ao processo de colonização, culturas e crenças diversas aparecem imbricadas. Com isso, a religião do Brasil se desenvolveu de forma bastante peculiar, como resultado da junção de diferentes crenças, símbolos e significados.


  HISTÓRIA DA RELIGIÃO DE MALTA/PB

Segundo os relatos de pessoas mais idosas, sabe-se que até os fins do século XVIII ainda havia indígenas habitando a região. Foi por volta de 1830 que João Fernandes de Freitas, fundador deste município construiu a capela em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, em torno da qual se desenvolveu mais tarde a cidade de Malta, pois as terras eram de solo fértil e atraiu muitos criadores de gado, que organizaram fazendas tanto para criação como para o cultivo de algodão. Sabemos que o povoamento dos sertões começou através da cultura dos rebanhos, especificamente a criação de bovinos. Com isso, a formação e distribuição dos povoados se orientavam através dos cursos dos rios, sobretudo o rio Piranhas que foi muito importante para a formação do povoado sede município de Malta.

              Segundo a Revista do Cinqüentenário de Emancipação Política de Malta (2003, p.2):

O domínio da terra se processou, então, a partir do início do século XVIII, cabendo a Teodósio de Oliveira Ledo, a área que começando às margens do rio Piranhas se limitava na extremidade posterior da faixa desmebrada de Pombal para a formação do povoado de Malta

 Em 1893, Frei Herculano era o responsável por essa sede que pertencia à Paróquia de Pombal. Foi ele quem iniciou a primeira reforma da capela tornando-a maior, e com o passar do tempo várias outras reformas foram realizadas com o objetivo de melhor acomodação dos fiéis.
             Em 1950, o padre Vicente de Freitas administrava a Paróquia de Pombal e fez uma solicitação ao Bispo Diocesano Dom Luiz do Amaral quanto à criação da Paróquia de Malta, mas somente foi elevada a paróquia em 1954. O mesmo ficou responsável também pela Paróquia Maltense até janeiro de 1957, tendo como seu primeiro sacerdote o padre Levi Rodrigues. Podemos observar na Revista do Cinqüentenário de Emancipação Política de Malta (2003, p.4) que:

No dia 15 de janeiro de 1954 Dom Zacarias Rolim de Moura criou a paróquia de Malta e monsenhor Vicente de Freitas fez a transmissão do cargo para o padre Levi Rodrigues de Oliveira que no dia 13 de janeiro de 1957 foi constituído como primeiro vigário [...] em janeiro de 1960, padre Levi passou o cargo ao padre Francisco Paulo Licarião que regeu a paróquia até 30 de abril do mesmo ano e logo no 1º de maio seguinte Dom Expedito Eduardo de Oliveira nomeou o padre Acácio Cartaxo Rolim como vigário de Malta.

            A partir de então, dá-se início uma das mais belas histórias de dedicação à paróquia de Malta. Padre Acácio, passou 43 anos de sua vida sacerdotal de doação a essa comunidade, com sua vida virtuosa e voltada para a evangelização, foi um grande guia e conhecedor da trajetória do povo Maltense. Chegando aqui em maio de 1960 e tendo que se afastar por algumas debilitações na sua saúde, passou o cargo ao padre Gildomar Candeia de Sousa em 1º de fevereiro de 2003, porém, continuou morando na cidade até seu falecimento, fato ocorrido em 8º de maio de 2011. Considerado pelo povo como um sacerdote ideal, que transmitiu Deus no evangelho e com convicção transformou os corações de muitos fiéis através dos seus ensinamentos.

Embora tenha passado pouco tempo conosco, o padre Gildomar Candeia de Sousa, sendo o 3º administrador da paróquia de Malta, contribuiu fortemente para o crescimento da nossa paróquia através dos seus trabalhos realizados. Deu continuidade aos serviços pastorais anteriores, bem como ampliou e implantou novas atividades com intuito de tornar os fiéis mais fervorosos, mas permaneceu na paróquia até o dia 24 de julho de 2005, sendo substituído pelo padre Maurício Sandro de Lima Mota que está à frente da paróquia como Pároco de Malta até os dias atuais.Profundo conhecedor da palavra de Deus, logo conquistou a amizade e o respeito do povo de malta por possuir caráter de cunho humilde.Portanto, através do seu conhecimento vem pregando e ensinando que podemos nos tornar cristãos melhores a partir da escuta da palavra, seguida de atitudes concretas que visem o bem ao próximo. Além das obras e projetos realizados,contribui diariamente para que nossa comunidade siga o rumo do progresso.

  A FESTA DA PADROEIRA ENQUANTO SAGRADA E PROFANA EM MALTA/PB


Entre uma das principais características da Festa religiosas podemos destacar a relação de sagrado e profano. Como afirma o sociólogo Emile Durkheim “o fenômeno religioso é constituído por crenças e ritos, caracterizados por sagrados e profanos [...]”.
Não existe uma única classificação que diferencie esses dois elementos, o sagrado e profano, apenas encontramos várias formas de interpretação, variando de cultura, de espaço e tempo.  

Uma dos aspectos mais relevantes do povo Maltense é justamente a devoção a Nossa Senhora da Conceição. A festa da padroeira, a ela dedicada é tradição desde tempos remotos e é realizada todos os anos com muito entusiasmo e fervor. Essa festa é realizada em duas modalidades, parte religiosa e social. Ao mesmo tempo é também uma manifestação coletiva, que reúne parentes, amigos, pessoas que são engajadas na própria igreja, formando em torna dela uma comunidade que expressa, por meio dela, toda a sua religiosidade. Nisso, as pessoas demonstram grande satisfação tanto ao realizar quanto em participar

              Na festa da padroeira de Malta pode-se perceber claramente a presença do sagrado, uma vez que nos momentos de louvor e oração há uma demonstração de fé a Maria Santíssima. Todos os sentimentos de religiosidade afloram nesse momento,onde parece tomar conta dos fiéis, que se sentem mais próximos e mais ligados uns com os outros por intermédio da festa.No entanto, quando as missas e celebrações terminam, o lado profano aparece através da dança, da bebida. Pessoas que vêem o lado da festa como forma de encontros para diversão, sem nenhuma intenção religiosa. 

            Percebemos que, juntamente com a devoção a Nossa Senhora da Conceição, elementos como música, comidas, e os tradicionais leilões, configuram-se um momento importante, como uma relação do rito religioso. Portanto, a festa da padroeira de Malta é formada por um entrelaçamento entre práticas sagradas e profanas.

Marcia Medeiros,
Licenciada pelas Faculdades Integradas de Patos .


Referências Bibliográficas


FILHO, Antonio Fernandes. Cinquentenário de Emancipação Política de Malta:50 anos 1953-2003. Malta, 2003.

LUCENA, Damião. Jubileu Áureo Diocese de Patos:50 anos em revista. 2009.

GARCIA, Dênis Medeiros. Evolução Política do Município de Malta-PB. Monografia (Graduação). Patos: Fip,2012.

MOTT, Luiz. Cotidiano e vivência religiosa:entre a capela e o calundu. In: SOUSA, Laura de Melo e (org.).História da vida privada no Brasil:Cotidiano e vida privada na América Portuguesa. V. 1. São Paulo: Cia das letras, 1997. Cap. 4.





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